Dramaturgia





I.

fragmento de “Lua de Chocolate”, de Raísa Lua e Carlos Reis.


CACHORRO DETETIVE – Senhor... Senhor... Senhor...

REI SONOLENTO – (entre o dormir e o acordar) O leque do moleque é do moleque. O leque do moleque é do moleque...

CACHORRO DETETIVE – Por favor, majestade... Acorde.

REI SONOLENTO – (saltando do trono) Se o papa papasse papa, se o papa papasse pão, se o papa papasse tudo, seria um papa papão. (volta a dormir)

CACHORRO DETETIVE – Por favor, senhor rei... (desistindo). Não adianta, ele não vai acordar. Aliás, parece que no reino do rei sonolento todos adoram passar horas e horas dormindo.

REI SONOLENTO – (entre o dormir e o acordar) O rato roeu a roupa do rei de Roma...

CACHORRO DETETIVE – Vai roer é a roupa do Rei Sonolento, isso sim!

REI SONOLENTO – (saltando do trono) Quê? Como? Onde? Quando? (vendo o detetive) Quem é você?

CACHORRO DETETIVE – Prazer, senhor rei

REI SONOLENTO – Ah, já sei. Você é o rato que veio roer a roupa do rei. Roa à vontade... pegue um travesseiro e... (sobressaltando-se) Quê? Roer a roupa do rei?? Nunca!! Fora daqui, seu rato bobo!!

CACHORRO DETETIVE – Calma, majestade, eu não sou um rato. Não está vendo? Sou um cachorro!!

REI SONOLENTO – É verdade! Você  não é um rato! Pode ficar à vontade, senhor cachorro. Durma um pouquinho, se quiser. Se não quiser, plante batatas. Eu vou dormir. Boa noite!!

CACHORRO DETETIVE – (não deixando o rei dormir) Majestade, majestade, sou um cachorro detetive. Estou em uma missão...

REI SONOLENTO – Ora, não me amole. Estou com sono. (dorme).

CACHORRO DETETIVE – Por favor, senhor rei... Dormiu de novo. Bem, acho que aqui nesta terra distante não vou encontrar respostas. Melhor eu ir. Adeus, Rei Sonolento. Quem sabe no reino seguinte descubro qual é a verdadeira cor da lua.

REI SONOLENTO – Quê? Como? Onde? Quando? Cor da lua? Você falou (boceja) cor da lua???

CACHORRO DETETIVE – É. A cor da lua.

REI SONOLENTO – Amarela. É amarela. Mas ouvi falar que no Japão a lua é vermelha.

CACHORRO DETETIVE – Mas de pertinho a cor...

REI SONOLENTO – (cortando) Quando coberta de nuvens a lua não tem cor.

CACHORRO DETETIVE – Sei. Mas...

REI SONOLENTO – (cortando) E se for pintada por uma criança, pode ser de qualquer cor. De qualquer cor. Sabe por quê?

CACHORRO DETETIVE – Olha, senhor rei...

REI SONOLENTO – (cortando) – Porque as crianças são muito inteligentes. Elas usam e abusam de uma tal... criatividade!!! Agora, meu bom cachorro, me deixa dormir um pouco. Ficar cortando a sua fala deixa um rei muito cansado. (dorme).





II.

fragmento de “Raísa Vai à Lua”, de Carlos Reis.


PRINCESA - (assustada com a entrada dos primos) Aiiiiiiiii!!!!

VÍTOR - Gostei da minha velocidade. Velocidade de trem bala!

ÍGOR - E a minha? Velocidade de trem japonês!

VÍTOR - Não interessa. Quem vai achar o anel da princesa serei eu.

ÍGOR - Negativo. Eu vou achar o anel da princesa.

VÍTOR - Eu. Com a velocidade de um trem bala!

ÍGOR - Eu. Com a velocidade de um trem japonês!

PRINCESA - Querem parar?!?!? Estou triste. Perdi o meu anel no mar.

VÍTOR - Não se preocupe, princesa. Atrás da minha casa tem um mar bem grandão. Quem sabe seu anel não esteja lá.

ÍGOR - Atrás da minha casa também tem mar.

PRINCESA - Não é um mar daqui. É um mar distante. Lá da Espanha.

VÍTOR - É um mar muito longe.

ÍGOR - Põe longe nisso.

PRINCESA - Vocês podiam ir à Espanha por mim.

VÍTOR - Não serve o mar lá de casa?

ÍGOR - Ou lá de casa?

PRINCESA - Não!!!!! Eu fui à Espanha e perdi o meu anel no mar. (entra Diego, caracterizado de Saltimbanco)

SALTIMBANCO - Senhoras e senhores. Respeitável público. Trago notícias da Espanha. Permitam-me que eu me apresente. Permitam-me.

PRINCESA - (maravilhada) O senhor conhece a Espanha?

SALTIMBANCO - Ó, que maravilha de princesa! Que maravilha!

PRINCESA - (esperançosa) O senhor conhece o mar da Espanha?

SALTIMBANCO - Sim, minha bela princesa. Sim.

VÍTOR e ÍGOR - Não conheceu nada, princesa. Não conheceu.

SALTIMBANCO - Ó, belos rapazes! Apenas um tanto beiçudos. Apenas.

VÍTOR - (ironizando) "Ó, que maravilha de princesa. Que maravilha."

IGOR - (idem) "Ó, belos rapazes. Ó."

SALTIMBANCO - Senhoras e senhores. Respeitável público. Fui à Espanha buscar o meu chapéu. Azul e branco da cor daquele céu. Era palma, palma, palma. Era pé, pé, pé. Era roda, roda, roda. Caranguejo peixe é.

VÍTOR e ÍGOR - Não é não. (em  tom de briga). Caranguejo não é peixe.

SALTIMBANCO - Caranguejo peixe é. É!

PRINCESA - (chorando baixinho) Parem!!!! Parem!!!! E o meu anel? Sem ele não poderei ir à lua.

DIEGO - (desmanchando a brincadeira) Ah, Raísa, você falou que ia à lua mesmo sem o anel.

ÍGOR - Foi mesmo. Falou sim. Você disse "vou à lua, mesmo sem o anel". Falou sim.

RAÍSA - Ah, mas vocês são uns chatos. Não interessa, eu só vou à lua com o anel.

VÍTOR - Você que inventou a brincadeira Os Caçadores do Anel da Princesa e essa tal de ir à lua. Quem inventa, aguenta.


Um comentário:

  1. Do livro "Lua de Chocolate", de Carlos Reis e Raísa Lua (FCJP, Ji-Paraná/RO, 2010)

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